Morar no exterior sempre foi um sonho meu, por distintos motivos. Mas o principal deles é que o mundo parecia muito grande para que eu conhecesse só o meu quintal. 

Quando eu era criança, eu dizia que seria diplomata. Porque para mim, parecia a maneira mais lógica de conseguir morar fora. Depois, adolescente eu comecei a buscar todo o tipo de intercâmbio possível, mesmo que eu não tivesse grana, nem saúde (na época) para isso. 

Eu já trabalhava desde o início da faculdade e o intercâmbio também começou a ser adiado por falta de tempo. Já que eu me dividia entre a UFRJ, o trabalho, os projetos extracurriculares e todo o demais que eu tinha pelo meio. 

Em 2016, depois de ter terminado a faculdade, ter sido demitida e ter uma reviravolta na minha carreira, eu achei que era hora de fazer as malas.

Eu já morava há alguns anos longe dos meus pais, consegui guardar uma grana e parecia a hora de sair do Rio e me encontrar em algum outro lugar. Eu pensava em seguir os passos dos meus amigos e ir pra São Paulo. Mas se eu gastasse quase o mesmo pra sair do Brasil? Nem que fosse por uns meses? Não custava tentar.

Morar fora sem muita grana: os primeiros passos

Uma amiga que já trabalhava há algum tempo com intercâmbio tinha me dado um toque e me enviou uma lista de possibilidades. Bolsas de estudos de universidades diferentes, bolsas da fundação estudar, programas da AIESEC, programas para jovens talentos no exterior… me inscrevi para absolutamente tudo, esperando um aceite! Enquanto isso eu trabalhava no Rio e ia tocando a vida. 

Numa dessas eu passei pra um programa de trabalho em Bogotá, para trabalhar no Spotify. Nessa época eu já falava espanhol e inglês (obrigada ao meu eu adolescente que prestou atenção nas aulas) e achei que fosse ser tranquilo. Eu tinha recebido algumas outras respostas também, mas nenhuma delas me parecia tão interessante quanto trabalhar para o meu aplicativo favorito (ainda que o cargo não fosse isso tudo). 

A decisão de me mudar para Bogotá e o embate com a família

Depois do ok, eu tinha 1 mês para estar na Colômbia. O prazo pode parecer muito, mas é muito rápido, principalmente se você tem uma dissertação para apresentar, um apartamento pra esvaziar e uma viagem de 10 dias (marcada há meses) no meio disso. 

Foi uma correria e confesso que nem pensei muito no meio do caminho, só fui. Se desse tudo errado? Sempre teria a casa dos meus pais para voltar. 

Mas fui no automático e pensando no trabalho, no futuro, imaginando mil coisas. Enquanto isso, parte da minha família me julgava. “Por que você não vai para a Europa?” “Ah, mas a Colômbia é muito perigosa” “Mas você vai sair do Brasil para morar na Colômbia”.

Nessa época, Narcos acabava de estrear na TV e eu tive que fazer um esforço descomunal para explicar que Bogotá não era aquilo. E nem o Santo Google tirava da cabeça do meu pai que eu podia me meter em encrenca com um narcotraficante colombiano. Mesmo com todo o suporte da empresa que ia me receber e da empresa que estava assessorando o trâmite. 

Resumo: o dinheiro é meu, o corpo é meu, fui assim mesmo.

A chegada em Bogotá

Depois de muitas escalas (o voo era bastante barato e eu vinha de outra viagem) cheguei em Bogotá. Tentando não criar expectativas, falando espanhol com sotaque chileno (por causa das minhas professoras e da minha família de coração que mora no Chile), com receio de não me adaptar e ansiosa pelos primeiros dias.

Por sorte, eu ia dividir um Airbnb pelo primeiro mês com dois colegas, também brasileiros que iam morar junto comigo em Bogotá. E aí eu já deixo a minha primeira dica: alugue um Airbnb ou um hostel nos primeiros dias numa cidade nova fora do seu país. Você nunca sabe o que vai encontrar quando chegar e, não importa o lugar do mundo, sempre tem gente querendo dar golpe em estrangeiro. 

Morar com esses colegas por um tempo também foi um desafio (que não deu certo). Porque, não importa o quanto as pessoas possam ser bons amigos, dividir apartamento são outros quinhentos. Todo mundo tem hábitos diferente dentro de casa e todo mundo precisa se ajustar ou não funciona.

Uma outra surpresa foi a altitude. Eu já sabia que Bogotá está a 2.700m de altitude. Mas o que eu não sabia é que leva um tempo pra você se acostumar com os efeitos da altitude no seu organismo. Se você tem problemas respiratórios, como eu, pode levar ainda mais tempo. No meu caso, eu levei 1 mês para conseguir fazer exercício normalmente como eu fazia no nível do mar.

Regularizar o visto e abrir uma conta na Colômbia

No primeiro mês, independente do país onde você esteja, vai precisar realizar uma série de tarefas até se estabelecer. A primeira delas é ir no órgão administrativo que regulariza a imigração. 

No caso da Colômbia, você chega com um visto no seu passaporte, que pode ser de estudos, trabalho, trabalho voluntário, ou você pode solicitar o visto Mercosul. Esse último pode ser concedido para cidadãos que fazem parte do bloco econômico do Mercosul e viabiliza todas as possibilidades anteriores.

Chegando no país você precisa solicitar o cartão de residente, que é como uma identidade do estrangeiro. De maneira geral a oficina de extranjería (o local onde você realiza esses trâmites na Colômbia) me pareceu bastante organizada. Tudo correu bem e dentro de duas semanas eu já tinha o meu cartão. O problema todo foi o banco.

Em geral, lidar com um banco em qualquer país é uma dor de cabeça. Eu, pelo menos, sempre escolho o menos pior. Mas nesse caso, eu tinha que fazer uma conta no Bancolombia, que era o banco usado pela empresa. Um milhão de regras para abrir uma conta, para usar a sua conta, umas taxas absurdas para sacar dinheiro (você só podia sacar grátis 4 vezes por mês).

E apesar, de que algumas agências ficam abertas no sábado, vários lugares não aceitavam cartão (até 2017 pelo menos, espero que tenha mudado) e às vezes era difícil encontrar um caixa eletrônico.

Encontrar apartamento em Bogotá

Comparando com o Rio de Janeiro (a cidade que eu morava antes) e Barcelona (a cidade que eu fui morar depois), encontrar um apartamento, ou um quarto em Bogotá foi até bastante fácil. Assim como no Brasil, eu busquei em sites especializados, peguei a recomendação de amigos e também procurei em grupos do Facebook.

Dependendo de quanto você ganhar, um aluguel pode sair barato. No meu caso, eu gastava ⅕ do meu salário em aluguel e contas. No Rio, quase metade do meu salário ia para pagar conta. 

A cidade é dividida entre o Sul, Centro e Norte. Sendo o norte a zona mais rica e o sul mais pobre. O centro é bastante turístico e é o lugar onde você vai encontrar museus, boates e a maior parte das ofertas culturais. 

As ruas também tem uma divisão diferente, tem números ao invés de nomes. A cidade é dividida pelas calles (que vão crescendo em sentido sul>norte) e as carreras (que vão crescendo em sentido leste>oeste). Parece bastante complicado no início, mas depois de um tempo você se acostuma. 

Em Bogotá, eu morei em diferentes apartamentos, mas todos em Cedritos, que fica na zona norte da cidade. O bairro não é o melhor da cidade para mim (eu prefiro Chapinero ou a Zona T) mas era bem perto do meu trabalho, seguro e eu contava com restaurantes, mercados e bares perto de casa. 

Morar fora e se adaptar a uma nova cultura

Com qualquer mudança vem também as adaptações. E no caso de ir morar em outro país esse processo é muito mais intenso, mesmo que a Colômbia seja um país latino-americano muitas coisas são diferentes. Uma das coisas que eu mais estranhei foram os horários em que as coisas aconteciam em Bogotá e em que  a cidade e a vida cultural funcionavam. 

Eu estava acostumada com o Rio de Janeiro em que tudo funcionava até mais tarde e o que as festas começavam meia-noite. Em Bogotá, por outro lado, tudo começava cedo e terminava cedo e não tinha tanta vida noturna durante a semana.

Entre as coisas que eu também estranhei estava conservadorismo das pessoas, que muitas vezes parecia maior do que no Brasil.  Como vou botar uma cidade muito alta, faz mais frio do que no Rio de Janeiro, mais ainda sim é possível sair com uma saia na rua.  no entanto, eu recebia vários olhares, tanto de mulheres como de homens, me julgando cada vez que eu saía  mostrando um pouco mais de pele.

Mas nem tudo era negativo. Por outro lado, as pessoas são muito solícitas, muito educadas e uma das coisas que mais me chamou atenção positivamente foi a maneira que elas cumprimentavam umas às outras. No final de uma conversa  eu sempre escutava “que tengas un buen día”. muitas vezes pessoas que  que você não conhecia te  te desejavam melhor e que Deus te abençoasse.  Esse gesto, mesmo para mim e não acredito em Deus me parecia muito carinhoso.

E por último, não tenho como não mencionar a cultura do Reggaeton.   a princípio eu não gostava muito deste estilo de música, mas no final você vai se acostumando vai entendendo que isso faz parte da cultura das pessoas e acaba gostando.

Trabalhar em outros idiomas: espanhol e inglês

No meu caso eu trabalhava em três idiomas: português, espanhol e inglês. Porque eu trabalhava atendendo o mercado brasileiro.  Além disso, eu trabalhava numa empresa multinacional, então o idioma oficial era o inglês, assim como o idioma dos treinamentos.

No entanto, como a minha chefe era colombiana, eu acabava falando com ela em espanhol.

Mesmo que a gente já fale um idioma antes, uma coisa é falar  de vez em quando, outra coisa é usá-los todos os dias.  Eu costumo dizer que quando a gente mora fora a gente vive o idioma, quanto antes a gente só fala.

Por isso, não existe melhor maneira de ganhar fluência do que morar em um lugar onde as pessoas falam exclusivamente uma língua. Além disso, você aprende as expressões locais,  as regionalidades e  os sotaques.

A Colômbia me ajudou a construir a minha identidade latinoamericana

Morar na Colômbia me deu a oportunidade de  viajar mais pela América Latina, me fez conhecer mais os nossos vizinhos e de enxergar muitas similaridades entre o Brasil, os brasileiros e os outros povos da América do Sul. Eu conheci cidade no interior da Colômbia, Equador e do Peru, e vi costumes, comidas, histórias de luta, de dor e de Glória muito similares às nossas. Aí eu entendi que mesmo falando uma outra língua éramos hermanos.

Em Bogotá eu descobri o que eu quero e não quero para a minha vida

Morar fora tem partes boas e ruins. eu, infelizmente, não me adaptei a Bogotá. Mas isso não quer dizer que eu não tenho aprendido com o tempo em que eu vivi lá e nem que eu tenha aproveitado muitas coisas naquele momento. Além disso, eu passei por algumas situações pessoais que me fizeram ter a certeza de que  eu não poderia mais continuar morando em Bogotá. Mas eu consegui entender muitas coisas sobre mim e sobre tudo aquilo que eu buscava para o meu futuro, para minha vida e para a próxima cidade que eu fosse morar.

Em Bogotá quase todos os dias são cinzas, quase todos os dias chove, quase todos os dias fazem frio (por causa da altitude). Eu me lembro de alguns dias me acordar e me sentir sufocada e a única maneira de chegar no mar era pegando avião,  viver longe do mar me fazia falta. Mas me fazia mais falta não ter quase nenhum dia de céu azul.

Isso não quer dizer que Bogotá não seja uma cidade para você, só não era para mim naquele momento, assim como o Rio de Janeiro já não era a cidade que eu deveria estar. Eu fiz vários amigos de trabalho que continuaram morando na cidade e alguns outros e continua morando na Colômbia até hoje.

Dicas para quem vai se mudar para fora pela primeira vez

Independente de onde você vá morar existem algumas dicas que podem te ajudar nesses primeiros dias e meses num país novo. Aqui eu deixo uma lista com o imprescindível:

– Alugue um airbnb ou um hotel/hostel nos primeiros dias. Comece a procurar mesmo quando você já estiver morando na cidade. 

-Troque a maior parte o seu dinheiro quando você chegar lá e use aplicativos e outras tecnologias para te ajudar. Eu recomendo, particularmente, o Western Union ou o Transfer wise.

-Conheça pessoas, nem que seja virtualmente, que possam te ajudar nesses primeiros dias, já que muitas vezes as legislações e regras de migração não são tão claras.

-Entre em grupos no Facebook de brasileiros que moram na sua nova cidade. Certamente muitos deles já passaram por algumas das coisas que você vai passar. 

-Se chegar na cidade sem conhecer ninguém, busque o Meetup (ou algo do gênero) sempre existem eventos com pessoas que acabam de chegar ou que querem fazer um language exchange. 

-Se você for morar num lugar que fala outro idioma, faça aulas antes de se mudar, para reforçar o seu conhecimento. Mas entenda que você não estará falando como um local de um dia para o outro.

Agora a Mari mora em Barcelona! Querem saber mais e acompanhar o dia-a-dia dessa mulher que ta desbravando o mundo e aprendendo novas línguas, vivendo e trabalhando em outros cantos do mundo? Segue ela lá no youtube e no Instagram!

8 Replies to “Mariana Zappa – Morar sozinha em Bogotá: como foi minha experiência”

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